The Knurd Project

Knurd Report JCast Café com Gundam Drunk Report

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JCast #210

02/04/2019 12:00 • Download

Nesse episódio:
00:00:36 Shoplifters
01:08:12 Mirai no Mirai
02:12:16 Oscar 2019

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“A gente aproveita que não tem ninguém conhecido” era a frase que ficava voltando à mente de Gabriela durante a festa, toda vez que Valéria parava a caminhada das duas para cumprimentar alguém que ela conhecia. E com esses encontros vinham os escândalos, os abraços, os flertes, as mãos bobas… Gabriela tentava não se importar e ficar chapada; ela tentava se entregar para a difusa onda provocada pelas diferentes substâncias que corriam em suas veias, mas algo no ar a incomodava tanto que ela não conseguia desligar seus sentidos, que estavam em estado de alerta máximo; quanto mais ela tentava subjugar e amortecer sua mente, mais ela rugia raivosa, paranoica, barulhenta e conspiratória. Ela queria se sentir grata por não estar sozinha… Ela sabia que precisava de Valéria a seu lado em ocasiões como essa, ainda que algumas vezes desejasse que a amiga sumisse no ar. Ela ressentia a necessidade que tinha pela amiga. Ainda mais quando abandonavam novamente as pessoas encontradas assim que a conversa se tornava mais democrática e menos focada em Valéria; ela tinha uma personalidade magnética e não sabia lidar com uma situação em que não fosse o centro das atenções.

Gabriela sabia que, provendo sua melhor amiga com o que ela precisava, poderia ter a garantia de manter para sempre a reciprocidade de seus sentimentos. E o que Valéria mais precisava era de uma pessoa que estivesse perfeitamente encaixada na rara conjunção entre o interessante e o neutro; alguém que ela pudesse arrastar em suas aventuras malucas e uma companhia que lhe conferisse coragem para seguir em frente, pois a vida sem isso seria tediosa demais. Nenhuma das duas queria estar sozinha, mas Gabriela sabia que a balança nem sempre pendia de forma justa para ambos os lados. Uma parte de si tinha consciência da insalubridade de uma situação em que você permite que alguém pense que está decidindo os rumos de sua vida enquanto você não percebe. Gabriela entendia, no entanto, que a felicidade é rara e não muito garantida, e que se deve agarrar a ela não importa o preço a ser pago.

E então havia Nero. Nero era chato, ele ficava falando de energia. Como a energia de Gabriela sempre estava muito pesada, e misturava no assunto qualquer que fosse a porcaria holística que aprendera naquela semana. Qual fora a curiosidade mística que ele contara naquela noite, assim que avistou Valéria, sua paixão platônica e antiga amiga, e não tardou em ir até ela com seus braços abertos, nus, tatuados e flácidos e com aquela típica estrutura muscular de um quarentão que deixara de malhar havia uns anos? E ele tomava a atenção para si de um jeito que ofuscava a própria Valéria, mas com ele era diferente porque ela não se importava. Com Nero ela fazia aquela cara de genuíno interesse que ninguém mais tinha a honra de receber. Ela nunca prestava muita atenção ao que Gabriela dizia… Não de verdade… Ela apenas esperava com muita diligência seu turno de falar. Ah, sim, Nero naquela noite falara algo sobre um ritual que fazia um anjo aparecer para você no meio da noite e te falar seu nome angelical ou algo assim.

– E meu nome é Melflyn. Significa “O que Ainda não se Cumpriu”. Tem tudo a ver com a minha busca, sabe, com essa vontade constante que eu tenho de aperfeiçoamento.

– Nossa, exatamente! – Valéria interrompia pela milésima vez, um nível acima de empolgação a cada novo “Nossa, exatamente!” que ela guinchava. E então em determinado momento o assunto voltara-se para Gabriela. E Nero tinha essa ideia maluca… E essa ideia parecia haver sido compartilhada previamente entre ele e Valéria, pois trocaram um levíssimo olhar cúmplice antes de Nero voltar seu cavanhaque branco pedante para Gabriela e começar a sugerir formas alternativas de se divertir, desafiar as normas, acessar umas conexões especiais entre a sua ment